Aqui  vai uma historinha... 
     ...pós-moderna. 
     Perdoem a irreverência. 
     Eliane Carmanim Lima  
   Era uma vez um sapo pós-moderno. Ele vivia tranqüilamente num brejo que já  estava poluído. Mas era um sapo globalizado que sonhava em sair do brejo e  ganhar outras margens. Um dia em que ele estava sonhando acordado chegou um  escorpião também pós-moderno e pediu-lhe para ajudá-lo a atravessar o brejo. O  sapo disse que não iria fazê-lo, porque já conhecia  aquela história, mas o  escorpião insistiu e disse que até já tinha feito muitos anos de análise e  mudado muito e que não queria morrer e se ele desse uma ferroada no sapo era o  que aconteceria. Ele ainda acrescentou que tinha nestes anos todos aprendido a  ser feliz  e que agora tudo o que ele queria era ir para o outro lado do  pântano. 
      O sapo sonhador ao ouvir que seu brejo era um pântano se deixou convencer,  porque aquilo era viver um pouco o sonho, mas ainda cético reclamou: não estou  num bom trânsito atualmente, sei não! 
     -Qual teu signo perguntou o escorpião: 
     -Touro, ascendente câncer e lua em peixes! 
     -Então a gente combina! 
     O sapo acabou se dando por vencido e começou a travessia com o sapo a tiracolo,  mas a lenda se repete como uma maldição e o  escorpião no meio do  caminho dá  uma ferroada no sapo indefeso. O sapo ainda olha para o escorpião entre  decepcionado e chocado e diz: 
      -Mas escorpião, vamos morrer os dois! E a  tua  análise? 
     -Não sei, é a minha natureza! Talvez se eu tivesse feito neurolinguística teria  me convencido de que eu era diferente ou talvez eu devesse ter continuado com o  Prozac, ou quem sabe ainda eu podia ter feito regressão e me livrado desta sina!  E tu sapo que já sabias, como caíste nesta? 
     -É que eu andei me envolvendo com um grupo que  militava pela inclusão social e  achei que tinhas que ter uma chance! 
     Estas foram as últimas palavras do sapo antes de sumir já com o veneno entrando  na circulação pelo brejo poluído! E o escorpião começa a entrar em pânico e se  dá conta tarde demais da asneira que fizera e com isto ele dá conta da fábula  que fala de sua natureza: ele sempre se arrepende tarde demais! Seus últimos  pensamentos foram para o analista e a raiva que lhe dava o dinheiro gasto nas  infindáveis sessões. 
     Mas como o sapo era pós-moderno, mas ainda não suficientemente globalizado, já  tinha tomado antídoto, porque lhe tinham assustado com a possibilidade de morrer  de tanta coisa que estava já vacinado e preparado. O veneno não foi mortal e  ele  só ficou um pouco manco das pernas que lhe permitiria pular e no desespero  de se salvar acabou chegando à outra margem que tantas vezes desejou alcançar  sempre sem coragem. Sim, ele estava com um mau trânsito e perdeu a capacidade de  saltar! Mas acabou agradecendo ao escorpião, porque graças a  ele acabou por fim  vencendo o medo e chegou a outra margem (que sua natureza mais lenta  provavelmente lhe impediria). Lá ele viu que seu brejo era apenas um brejo  poluído e que mais adiante havia sim outro pântano maior e mais assustador e por  isto muito mais tentador! Passou o resto de sua vida sonhando e esperando que  algo lhe permitisse saltar mais além, sempre responsabilizando o escorpião da  sua sorte e da sua desgraça. Não conseguiu ir além, limitou-se a justificar-se  nas ações dos outros. Morreu infeliz, fez uma tatuagem de um escorpião na perna  esquerda para marcar ainda mais a experiência, mas com a lembrança de uma  aventura e uma saudade : do friozinho na barriga do dia que se deixou convencer   e saltou para o desconhecido, saudades de seu algoz e de seu libertador e  daquele momento mágico. 
PS: se fosse  na antiga história haveria um final do tipo moral da história, mas aqui eu  conjeturo: 
1) se o sapo  também fosse de escorpião a história teria dois finais prováveis, num morrem de  fato os dois no meio do lago, porque o sapo escorpião também se ferra! Mas mais  provável é que ele levasse o escorpião e o afogasse no meio da viagem, para  surpresa do outro. Invariavelmente isto levaria a uma crise profunda até que o  sapo conseguisse se libertar das lembranças e transformar-se em um ser já livre do ego. 
2) se o sapo  fosse sagitariano ou quem sabe capricórnio não teria ido para o brejo e há muito  tempo já teria atravessado o pântano e talvez até o oceano. Além disso, não  teria aceitado receber ordens de ninguém e teria saído na frente. 
3) e se  fosse aquariano talvez tivesse aberto caminho para outros sapos irem além também e teria saído num rompante sem esperar ninguém ! 
        Como esta não é uma história astrológica  e nunca foi levada em questão a psicologia do sapo, que foi considerado sempre  um ator secundário, ele apenas vive um papel passivo, em qualquer versão da  história. Talvez seja hora de começarmos a ver a história com outro olhar e  recontá-la desde outro ponto de vista. Hoje faríamos um final interativo do  tipo: “você decide” e provavelmente acabariam de achar um final feliz e o sapo  encontraria no outro lado seu grande amor que o salvaria da maldição de morrer  precocemente e sozinho. Estes finais parecem não mudar ao longo dos anos, mas  provavelmente ele se apaixonaria por alguém do mesmo sexo e ninguém falaria nada  para seguirmos a dinâmica do “politicamente correto”, elemento que não nos permitiríamos na outra história. E se o final escolhido  fosse este não haveria princesa que o transformasse e ele seria o grande agente de sua transformação e coragem! Mas com certeza os  cientistas sociais começariam a reivindicar ao sapo um papel de relevância na  história. Mas no fim a história acabaria mostrando o que sempre mostrou: o  escorpião e sua natureza imutáveis como convém a uma fábula e ao mito e  particularmente este, ou seja, a moral da história se manteria!  
Notas: 
Um escorpião  me disse uma vez que o escorpião da história não se arrependeria, mas aí eu me  lembrei da moral da história e de uma característica dos escorpiões: “eles  morrem pela boca”. 
Este mesmo  escorpião me disse que o capricórnio já teria dragado o pântano e eu me lembrei  do que os astrólogos falam de capricórnio, mal compreendido, principalmente pela  visão escorpianina, ele poderia é ter feito disto a missão de sua vida, de  preferência para salvar o brejo inteiro e aí já o teria atravessado há muito  tempo sem precisar de um estímulo plutoniano! (E se mandasse dragar o brejo  seria para alcançar o oceano, para não escolher o que é mais fácil  simplesmente). 
E é claro  que quem assina a história é curiosamente capricorniana! 
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Este é meu blog pessoal e geral, porque tenho vários sobre alguns temais pontuais.Aos poucos está se configurando um blog com alguns textos meus, vídeos e links com sites e matérias que eu acho interessantes.
sábado, 7 de janeiro de 2012
O Sapo pós-moderno
Esta história eu escrevi faz bastante tempo e coloco aqui.(Escrevi em 2007, eu acho que em maio).É apenas um pouco de ironia astrológica.
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